COLONIZAÇÃO PELA SOMBRA
...de repente me lembro do verde.
A cor verde.
A mais verde que existe.
A cor mais alegre, a cor mais triste.

Paulo Leminski
No litoral do nordeste do Brasil, um guarda-sol estampado com marcas de bebidas, hasteado à beira mar como uma bandeira, conta um pouco a história de uma região que vai do turismo predatório até a luta da população para preservar suas tradições . O que escrevo é para pensar uma comunidade dividida entre dois momentos da sua história: “AQUELE POVO QUE VIVIA ALI” e o “O POVO DO OUTRO LADO DA PISTA”, ou seja, uma reflexão sobre a falência tropical dessa paisagem sequestrada;

_Os corpos de areia agora também são de cimento e porcelanato.
_ Rachaduras sociais e desfalque da identidade, em detrimento de um desenvolvimento advindo da ressaca modernista.

No litoral do nordeste do Brasil, a politica, por exemplo, é um reisado corporativo de neopentecostais, que transformam corpos em esculturas neoliberais. A conformação física disso é o simulacro de museu numa antiga casa de pescador restaurada, cujos proprietários vivem na Europa. O museu não sustenta sua lembrança de areia; e isso também é a confirmação de apropriação cultural. No entanto, há algo de natureza subjetiva que diz que o museu não é aquele com peças saqueadas da história, e sim a nova casa, na periferia, de cimento e porcelanato onde vivem esses corpos arquivos, que contam sua própria história.


No limite, tudo fica em torno do abandono e da tentativa de eleger novos campos simbolistas, como o protagonismo de animais em extinção, a revisão do sagrado e a politica do poder menor.
Mais: Durante minha temporada em São Miguel dos Milagres muitas questões me atravessaram, porém, o pastoril e o metro quadrado de sombra inflacionado ativaram assuntos recorrentes em minha produção artística, como territórios devir e corpo_novo.